Michelle Lavalle – Cineasta
Eu, hoje, Michele Lavalle, uma cineasta recém formada, sinto-me um pouco capaz de falar sobre um dos mais fascinantes gêneros cinematográficos tipicamente brasileiros: as memoráveis chanchadas da Atlântida.
Foi ao assistir o documentário “Assim era a Atlântida” que resolvi me aprofundar nos estudos sobre essa produtora que intentou criar produções grandiosas tipicamente brasileiras, com simplicidade, popularidade, sátiras bem elaboradas, e que deixavam os atores livres para mostrarem os seus talentos.
A Atlântida Cinematográfica, produtora fundada na década de 40, deu ao Brasil a possibilidade de ter o seu próprio cinema. Os espectadores identificavam-se com os personagens, riam, divertiam-se, e além de tudo, respiravam cultura juntamente com entretenimento.
Fiquei imensamente surpresa durante meus estudos sobre a Atlântida ao descobrir que o diretor de uma grande emissora de televisão do país começou no mundo do cinema como assistente de contra-regra na Atlântida, isso antes de dirigir o seu primeiro filme na produtora, “A dupla do barulho” , com a mesma idade que eu estou, 22 anos.
Carlos Manga começou sua carreira na Atlântida na década de 50, e é dele a direção de grandes sucessos como: “Nem Sansão nem Dalila”, “A dupla do Barulho”, “Esse milhão é meu”, entre outros.
Mergulhada nesse universo, resolvi vivenciar de alguma maneira o que poderia ser próximo ao período popular e magnífico que tivemos na década de 50. Decidi, portanto, fazer um documentário sobre a direção de atores de Carlos Manga, colhendo depoimentos dele e de atores que trabalharam com ele naquela época. Assim nasceu o curta-metragem “Quanto mais Manga melhor”. O título… o título seguia uma das idéias fixas utilizadas pela Atlântida: a sátira. Além de poder fazer referência a um filme do próprio Manga, chamado “Quanto mais Samba melhor”, refere-se também a um clássico de Billy Wilder, chamado: “Quanto mais quente melhor”.
Além das referências aos outros filmes, achei que com esse título, o documentário pudesse mostrar mais do diretor, não da sua vida pessoal, mas um Manga amadurecido, vivido, realizado e com histórias ricas sobre sua direção na Atlântida.
Acredito que tanto a Atlântida como o Manga contribuíram para a história do cinema popular brasileiro, e nada melhor que lembrar disso hoje, num momento de retomada desse cinema, pra podermos apresentar esses grandes artistas do passado para a minha geração. As salas de cinema ficavam lotadas e aquelas pessoas paravam durante no mínimo 2 horas pra respirarem sua cultura e delirarem com as fasntásticas representações de Oscarito, Grande Otelo, Mesquitinha, Eliana Macedo, Adelaide Chiozzo, Cyll Farney, Zezé Macedo, José Lewgoy, entre outros gênios que estamparam as nossas telas, e deixaram suas obras pra eternidade.