Lula Cardoso Ayres Filho
Jaboatão dos Guararapes – PE , Maio de 2006.

A ATLÂNTIDA É O VERDADEIRO CINEMA BRASILEIRO
Desde os primeiros anos de minha vida, venho tendo uma acentuada ligação com o cinema. Fui criado em um ambiente de arte por excelência. Meu pai, Lula Cardoso Ayres, um dos mais importantes artistas plásticos brasileiros, e minha mãe, Lourdes, com formação européia, conduziram-me, desde a infância, para uma grande admiração pela pintura, pela literatura, pela música e pelo cinema.

As sessões de sábado em nossa casa, quando nos meus 5 e 6 anos, traziam, através das lentes de um velho projetor Bell & Howell, as geniais comédias de Chaplin, de Buster Keaton e de Laurel & Hardy. Quando comecei a freqüentar os cinemas da minha cidade, levado a princípio por minha mãe e por meu inesquecível tio Zeca, que me dava prioridade na escolha dos filmes, às vezes até não de acordo com as preferências de seus filhos, meus queridos primos, estavam no auge as inesquecíveis e insuperáveis chanchadas da ATLÂNTIDA. Os filmes com Oscarito, Grande Otelo, Eliana, Cyll Farney, Sonia Mamed e Zezé Macedo eram ansiosamente esperados por todos.

Além de lotarem as salas, traziam uma mensagem de alegria, de otimismo e de paixão pelo cinema. Assistia 4, 5 vezes o mesmo filme. Eles eram lançados nos cinemas do centro e, depois de algumas semanas, corriam os bairros. Era a época romântica da Sétima Arte, onde a tela era vista como uma janela para a vida exterior.

A paixão incontida pelo cinema fez com que em 1970 adquirisse o meu primeiro
projetor de 16mm. Com o surgimento comercial do Super 8, tive a oportunidade
de iniciar uma coleção de filmes. Em viagens ao exterior, comecei a conseguir obras que nem passariam pelos sonhos mais otimistas poder possuí-las. Quando comecei a estreitar os contatos com colecionadores brasileiros, embora sempre à procura de películas mudas e do início do cinema sonoro, inesperadamente surgiu a possibilidade de conseguir obras brasileiras, principalmente das décadas de 40 e 50, quando o “câncer do cinema novo” ainda não havia destruído o puro espírito dos filmes nacionais.

Quando, em 1975, foi construída a casa onde morei até 1993, e que hoje é a sede do Instituto Cultural Lula Cardoso Ayres, que tem como principal objetivo a preservação e divulgação da obra do artista, após uma precisa reforma projetada e conduzida por Regina, minha esposa e a grande responsável pela existência do nosso Museu, foi montado um pequeno cinema no subsolo, onde hoje funciona o arquivo áudio-visual.
A coleção foi crescendo. Novos títulos foram surgindo. Mas, a cada filme nacional que conseguia, a emoção era sempre maior. Infelizmente, por problemas de falta de climatização, perderam-se alguns rolos, mas nada que diminuísse a importância da Cinemateca, incorporada ao Instituto desde a sua criação. Hoje existem no acervo mais de 3000 películas, dessas, 120 são cópias em 16mm de raríssimos filmes nacionais, freqüentemente projetados nas nossas sessões gratuitas semanais, na nossa nova sala, com 45 lugares.

Dos 13 filmes da ATLÂNTIDA que fazem parte do acervo do Instituto, alguns deles eram até pouco tempo atrás considerados desaparecidos, destacando-se: TAMBÉM SOMOS IRMÃOS, E O MUNDO SE DIVERTE, O CAÇULA DO BARULHO e VAMOS COM CALMA. Hoje, temos certeza que vão vir a ter uma importância fundamental na recomposição da História dessa grande Produtora Cinematográfica.

O Instituto Cultural Lula Cardoso Ayres, através dos seus diretores Regina e Lula Cardoso Ayres Filho, sente-se muito honrado em, de alguma forma, poder participar na criação do MUSEU DA ATLÂNTIDA, trazendo de volta para o século XXI o que de melhor foi produzido pelo Cinema Nacional.